Como boa parte das cerca de 30 crianças presentes, Christian Moço, de 10 anos, não parava de correr e gritar durante a primeira aula da oficina de teatro realizada por Cristina Bethencourt nas instalações do Instituto Galpão da Gamboa, Zona Portuária do Rio. Na última aula, no último dia 4, Christian manteve o mesmo nível de energia, embora recorresse a todo instante à atriz e diretora, ora para tirar dúvidas sobre as falas de Perseu, seu personagem, ora para avisar que se somara às estátuas na apresentação dos outros grupos. “A tia me ensinou várias coisas. Quando crescer, vou ser artista”, disse ele ao final, um indício de que o objetivo de aproximar os pequenos do universo teatral e, desta forma, ajudar na sua formação havia sido cumprido.
Professora de teatro e preparadora do elenco infantil, Cristina, que é filha do falecido dramaturgo e diretor João Bethencourt, vem se dedicando com afinco às oficinas, embrião de um projeto concebido em parceria com a Rede Globo. A ideia surgiu depois que uma atriz mirim, integrante do elenco de Caminho das Índias, escreveu em uma redação que adoraria ver os colegas de sua escola pública, em Guadalupe, terem aulas de teatro. Após passar pelo bairro da Zona Oeste, pela Cidade de Deus e pela Gamboa, a oficina será realizada no morro do Cantagalo em março.
“Criança é um bichinho especial. Se não tiver a fagulha dentro dela, não dá certo. Só faz as coisas com prazer”, diz Cristina, que deu aulas de teatro para menores durante dez anos na Casa de Cultura Laura Alvim e orientou atores mirins nas novelas Duas Caras, Negócio da China e Passione, bem como nos filmes “Verônica”, “Abracadabra” e “Uma Professora Muito Maluquinha”, que chegará aos cinemas em 2011.
Nestes trabalhos, diferentemente do realizado nas comunidades carentes, é preciso extrair da criança a emoção pedida pelo diretor. Para isso, um dos segredos é conseguir fazer com que ela sinta-se muito à vontade no set, ambiente pouco preparado para recebê-las e no qual precisam passar muitas vezes oito horas seguidas. Tarefa que requer habilidade e muita paciência, mas não assusta Cristina, mãe de Vitor, de 15 anos, e Clara, de 14.
“Ator, se for muito obediente, fica chato. Os mais rebeldes, quando controlados, são os que mais dão caldo”, conta a atriz e diretora, que admite ter mais facilidade para trabalhar com crianças que com adultos: “No início, dar aulas para crianças era um bico, mas me apaixonei pela espontaneidade delas. É mais fácil chegar nelas que nos adultos, que têm de ser desarmados antes. Sinto-me mais à vontade entre elas”.
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