quarta-feira, 27 de julho de 2011

#JaneteClair: Por causa da censura, autora mudou o foco de Duas Vidas


Seria mais uma longa e desgastante batalha contra a censura. Janete Clair só queria repetir sucesso do realismo social de Pecado Capital ao contar a história de moradores do Catete obrigados a abandonar as casas e reconstruir suas vidas com o início das obras do metrô da região. Em Duas Vidas (1976), a autora falava dos transtornos que uma obra pública pode causar na vida das pessoas, mas a Censura Federal não viu a crítica com bons olhos. A construção do metrô era obra do governo de Ernesto Geisel e, para os censores, não podia ser alvo de críticas na televisão. Muitas cenas sofreram cortes, outras foram proibidas de ir ao ar, até as mais simples, como a reclamação dos personagens sobre a poeira causada pelas obras.


O diretor Gonzaga Blota, que assumiu a trama por volta do capítulo 41, sugeriu várias mudanças na novela, para desviar a atenção dos censores. A solução encontrada pela autora foi investir no triângulo amoroso entre Leda Maria (Betty Faria), Victor Amadeu (Francisco Cuoco e Dino (Mário Gomes).

Para lutar por sua sinopse, a autora travou uma luta contra os militares e chegou a escrever uma carta para a Divisão de Censura e Diversões Públicas do Departamento de Polícia Ferderal, que dizia:

- Quem lhe escreve é uma escritora perplexa e desorientada em face dos cortes que vêm sendo feitos pela Censura Federal nos últimos capítulos da novela Duas Vidas. Perplexa e desorientada não apenas pela drástica mutilação da obra que venho realizando, como também diante do incompreensível critério que orienta a ação dos censores – desabafou.

A carta, porém, não surtiu efeito e a autora seguiu em frente, colocando os holofotes em cima da história de amor. Mesmo assim, a novela conseguiu alcançar sucesso de público. Na trama, Leda Maria (Betty Faria) e o filho Téo (Carlos Poyart) são abandonada pelo marido, Tomás (Cecil Thiré), que rouba o dinheiro do pai e foge com outra mulher, Gilda (Arlete Salles). Sozinha, Leda acaba se envolvendo com o dr. Victor Amadeu (Francisco Cuoco) e Dino (Mário Gomes), aspirante a cantor e paixão de sua adolescência. O triângulo se complica quando o cantor se aproxima de Cláudia (Suzana Vieira), filha do dono de uma grande gravadora. Assim, a carreira de Dino deslancha e Leda, ainda apaixonada, acaba se deixando levar pelos encantos de Victor, com quem fica no final.


A trama, que marcou a estreia de Christiane Torloni em novelas, também teve problemas ao retratar um relacionamento amoroso entre uma mulher mais velha, Sônia (Isabel Ribeiro), e o jovem Maurício (Stepan Nercessian). A censura não aprovou o romace e interferiu no desenrolar da história. Para diminuir as críticas, Janete Clair teve que oficializar a união dos dois, o que não estava previsto na sinopse original.

A série de reportagens #JaneteClair, publicada no site da Rede Globo, conta a história e curiosidades da obra de uma das principais dramaturgas do país. Em homenagem aos 60 anos da teledramaturgia brasileira, a emissora exibe, de terça a sexta, o especial O Astro, baseado na obra de mesmo nome. A releitura da obra de Janete Clair é escrita por Alcides Nogueira e Geraldo Carneirom, tem direção de núcleo de Roberto Talma e direção geral de Mauro Mendonça Filho.

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