No dia 8 de julho de 1978, a Rede Globo parou o Brasil ao exibir o último capítulo da novela O Astro (1977). Todos queriam desvendar o mistério envolvendo a morte do empresário libanês Salomão Hayala (Dionísio Azevedo). E Janete Clair deixou o gostinho de suspense no ar até o final da novela, trazendo à tona um modelo de pergunta que seria copiado por tantos outros autores: "Quem matou Salomão Hayala?”. Três dias após o fim da novela, o escritor Carlos Drummond de Andrade escreveu em sua coluna no Jornal do Brasil: - Agora que O Astro acabou vamos cuidar da vida, que o Brasil está lá fora esperando – disse.
A novela gira em torno de Herculano Quintanilha (Francisco Cuoco), um mágico vidente que, após passar um tempo na cadeia por conta de um golpe aplicado no passado, recomeça a vida em outra cidade e acaba conhecendo Márcio Hayala (Tony Ramos), filho do poderoso Salomão. O jovem não se interessa pelos negócios do pai – com quem tem vários atritos -, mas, influenciado por Herculano, decide assumir a diretoria da empresa, levando o vidente consigo.
Herculano logo passa a exercer grande influência sobre a família Hayala e acaba conhecendo Amanda (Dina Sfat), diretora da construtora Mello Assunção, e os dois vivem uma intensa paixão. No desenrolar da trama, Salomão Hayala é misteriosamente assassinado e muitos dos personagens são suspeitos. Durante cinco meses, Janete Clair manteve o país apreensivo e curioso, mas, no último capítulo, todos descobrem que o assassino é Felipe Cerqueira (Edwin Luisi), jovem amante de Clô (Tereza Rachel), esposa do industrial. Também no último capítulo, o público vê Herculano deixar Amanda para sair do Brasil, para virar assessor do governo de um país ditatorial da América Central.
A história de Herculano Quintanilha era baseada na trajetória do ex-ministro do Bem-Estar Social da Argentina, Luiz Lopez Rega, que teve grande influência na administração do ex-presidente Juan Domingo Perón. Para dar vida ao vidente, Francisco Cuoco usava roupas coloridas e um turbante, que foi improvisado por Daniel Filho. A ideia do acessório surgiu enquanto a equipe gravava o primeiro capítulo. O diretor achava que faltava algum detalhe para compor o visual do personagem e, na mesma hora, pediu para que cortassem um pedaço da calça de um figurante. Com a ajuda de alfinetes, Daniel Filho criou o adereço que virou símbolo do vidente.
Tony Ramos foi um dos grandes destaques da novela O Astro. O ator garantiu seu papel na novela enquanto ajudava Daniel Filho a testar candidatos para um papel. Nos testes, o ator roubou a cena e acabou sendo convidado para interpretar Márcio Hayala. O personagem, que viveu um conturbado romance com a simples e batalhadora Lili (Elizabeth Savalla), protagonizou uma cena antológica da TV brasileira: após renegar a fortuna da família, Márcio tira a roupa na frente do pai e sai andando para fora da mansão dos Hayala, leve e solto, como um bom devoto de São Francisco de Assis. Este foi o primeiro nu masculino da história das novelas brasileiras.
A série de reportagens #JaneteClair, publicada no site da Rede Globo, conta a história e curiosidades da obra de uma das principais dramaturgas do país. Em homenagem aos 60 anos da teledramaturgia brasileira, a emissora exibe, de terça a sexta, o especial O Astro, baseado na obra de mesmo nome. A releitura da obra de Janete Clair é escrita por Alcides Nogueira e Geraldo Carneirom, tem direção de núcleo de Roberto Talma, direção geral de Mauro Mendonça Filho e direção de Fred Mayrink, Allan Fiterman e Noa Bressane.
Nenhum comentário:
Postar um comentário