sábado, 16 de julho de 2011

#JaneteClair: Censura fez muitos cortes na novela Fogo sobre Terra

Inicialmente intitulada de Cidade Vazia, a novela Fogo Sobre Terra (1974) fez Janete Clair mostrar a que veio. As inúmeras intervenções da Censura Federal obrigaram a autora a reescrever cenas e improvisar em um curto espaço de tempo. O primeiro embaraço surgiu em 1983, quando os militares vetaram a exibição da trama e Janete teve que elaborar uma nova história para substituí-la. Surge, assim, a novela O Semideus. No ano seguinte, a sinopse acabou sendo liberada, mas Janete estava longe de ficar livre das proibições.

A censura teve uma influência decisiva no andamento da novela. A primeira intervenção aconteceu quando o personagem Pedro Azulão (Juca de Oliveira), tentando evitar a demolição da fictícia cidade de Divinéia, estimilou os cidadãos a fazer uma luta armada para defender o território. Os censores interpretaram como um incentivo à guerrilha e proibiram as cenas. Janete alterou a história e Pedro acabou preso, acusado de invasão de domicílio, sequestro e tentativa de homicídio.


Outra intervenção veio quando o mesmo personagem decidiu se sacrificar junto com a cidade. Os militares não queriam que Pedro se tornasse um mártir e, no final das contas, o personagem desistiu do plano pouco antes da inundação de Divinéia. Os inúmeros cortes impostos pela censura obrigaram Janete Clair a reescrever, em poucos dias, capítulos já gravados. Em certa entrevista, a autora se queixou das interferências:

- É preciso dizer que não está sendo fácil escrever Fogo Sobre Terra. Por vezes o telespectador deve ter achado um capítulo sem nexo, truncado, e deve ter imaginado que eu enlouqueci. Não é fácil dizer a verdade. E, às vezes, ela vai ao ar mutilada por mil injunções. De uma só vez, tive que rasgar 12 capítulos. E muitas cenas saíram de minha máquina e não chegaram ao vídeo – desabafou.

A trama conta a história de Pedro Azulão (Juca de Oliveira) e Diogo (Jardel Filho), irmãos separados na infância que se reencontram anos depois na condição de rivais ao decidir o destino da cidade de Divinéia e disputar o amor de Chica Martins (Dina Sfat). Pedro foi criado na cidade pela tia e firmou-se como dono da maioria das terras da região. Diogo foi levado para o Rio de Janeiro, onde frequentou as melhores escolas e se tornou um profissional de engenharia muito bem sucedido.

Os dois se reencontram quando Diogo é enviado ao Mato Grosso para chefiar a construção de uma represa no local ocupado por Divinéia. Ao chegar na cidade, Diogo se apaixona por Chica, a namorada do irmão. Sonhando ser rica e morar na cidade grande, “Débora”, como gostava de ser chamada por ter verginha do nome, almeja deixar Divinéia, mas acaba se apaixonando por Diogo. Pedro, por sua vez, conhece Bárbara (Regina Duarte) e os dois acabam se envolvendo.

Regina Duarte tinha acabado de dar à luz a filha Gabriela quando começou a gravar Fogo Sobre Terra. Para conseguir dar conta do trabalho e, ao mesmo tempo, amamentar e cuidar da recém-nascida, a atriz se mudou para um prédio em frente à emissora, no jardim Botânico, onde eram feitas as cenas de estúdio.

A cidade cenográfica da novela foi construída em Barra de Maricá, no interior do Rio de Janeiro, que na época era uma pequena vila de pescadores. O local se tornou uma atração turística, recebendo visitantes nos finais de semana. Com o fim da novela, a região onde foram realizadas a maior parte das cenas passou a se chamar Divinéia, para homenagear a fictícia cidade da trama.

A série de reportagens #JaneteClair, publicada no site da Rede Globo, conta a história e curiosidades da obra de uma das principais dramaturgas do país. Em homenagem aos 60 anos da teledramaturgia brasileira, a emissora exibe, de terça a sexta, o especial O Astro, baseado na obra de mesmo nome. A releitura da obra de Janete Clair é escrita por Alcides Nogueira e Geraldo Carneirom, tem direção de núcleo de Roberto Talma, direção geral de Mauro Mendonça Filho e direção de Fred Mayrink, Allan Fiterman e Noa Bressane.

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