
Uma proposta um tanto quanto arriscada: o diretor de
Pecado Capital, Daniel Filho, sugeriu que
Janete Clair matasse o protagonista Carlão (Francisco Cuoco) no último capítulo da novela. Tudo isso porque o romance entre a tecelã Lucinha (Betty Faria) e o empresário Salviano (Lima Duarte) havia conquistado o público e a única maneira de fazer os dois ficarem juntos era dar um ponto final na história de amor entre o protagonista e a tecelã. Para Daniel Filho, só uma tragédia era capaz de separá-los para sempre.

A autora não aceitou a sugestão de imediato e temia a rejeição do público. Tinha medo que os telespectadores não se afeiçoassem mais aos personagens de seus próximos trabalhos. Com um discurso que defendia que a novela era capaz de surpreender o telespectador, o diretor acabou convencedo a autora.
Pecado Capital acabou sendo um dos grandes sucessos de Janete Clair - há quem diga que esta é a melhor novela da autora - e a cena da morte de Carlão é considerada um momento antológico da história da TV.

Mais uma vez, Janete Clair mostrou que o improviso e criação em pouquíssimo tempo eram algumas de suas qualidades. Em 1975, estava tudo pronto para a exibição de Roque Santeiro, mas a censura acabou proibindo a novela às vésperas da estreia. Janete foi convocadas às pressas para criar uma nova trama, enquanto a emissora exibia um compacto de
Selva de Pedra. A autora, que já tinha passado por situações parecidas em
Anastácia, a Mulher sem Destino (1967) e
O Semideus (1973),
deixou Bravo! nas mãos do colaborador Gilberto Braga, para se dedicar à nova trama.


Grande parte do elenco era formado por atores escalados para Roque Santeiro, incluindo Betty Faria, que seria a Viúva Porcina. A atriz quase não aceitou o papel de Lucinha, que seria de Regina Duarte, por achar que não era para ela. Ironicamente,
Pecado Capital acabou sendo um dos grandes sucessos da atriz e, em 1985, Regina Duarte acabou dando vida à Viúva Porcina, que se tornou um de seus trabalhos de mais destaque. O cenário de Roque Santeiro também foi reaproveitado. O pátio interno da casa que seria de Porcina foi pintado com outras cores e passou a ser de Salviano Lisboa.
A novela também lançou um novo estilo de protagonista. Ao invés do galã certinho e ideal, Carlão era mais próximo do povo, um homem machista, malandro e bem carioca, com defeitos e ambiguidades. O realismo foi característica em todas as áreas da produção. Para retratar com rigor o universo suburbano, a equipe desenvolveu laboratórios no subúrbio carioca. Ao invés de serem confeccionados, os figurinos eram reais. A figurinista Marília Carneiro foi às ruas para barganhar e trocar roupas que pessoas comuns estavam usando por peças novas. Tudo isso para reunir
Pecado Capital conta o drama do taxista Carlão, que viu sua vida mudar ao encontrar uma mala cheia de dinheiro roubado por traficantes no banco de trás de seu carro. Dividido entre devolver a grana e resolver seus problemas pessoais, o taxista decide usar uma parte do dinheiro para arcar com as despesas médicas de seu pai. O protagonista vive uma relação intensa e tumultuada com Lucinha (Betty Faria), tecelã da fábrica Centauro que, cansada da pobreza, decide aceitar o convite para estrelar a campanha publicitária da marca. A moça chama a atenção do dono da empresa, Salviano Lisboa (Lima Duarte), com quem acaba se envolvendo.

O sucesso profisissional e a sofisticação afastam Lurdinha da realidade de Carlão e os dois rompem. Ela engata um romance com Salviano, apesar da oposição dos filhos dele. Ainda apaixonado, Carlão decide competir com o empresário e usa o restante do dinheiro para comprar uma frota de táxis. A prosperidade do taxista chama a atenção dos assaltantes que perderam a mala. Os bandidos perseguem Carlão até a morte, no último capítulo da novela. A cena em que o protagonista cai em um canteiro de obras do metrô do Rio de Janeiro abraçado à mala de dinheiro está entre os momentos mais marcantes da TV.

A novela fez tanto sucesso que a
Rede Globo produziu uma
segunda versão para a trama, em 1998, com Eduardo Moscovis como Carlão, Carolina Ferraz na pele de Lucinha, e Cuoco interpretando Salviano Lisboa. Além disso, Betty Faria fez uma participação no remake, como uma trocadora de ônibus que conversa com Lurdinha (Carolina Ferraz). Já Lima Duarte, viveu o bandido que mata Carlão (Eduardo Moscovis).

A trilha sonora de
Pecado Capital trouxe algo novo para a produção musical das novelas. Antes, todas as músicas eram exclusivas e compostas por encomenda para as tramas. Guto Graça Mello implantou a ideia de que os produtores pudessem garimpar no cenário musical as canções, baseados na sinopse. Outra novidade foi a escolha de um samba para a abertura, composta por Paulinho da Viola especialmente para a trilha. A música “Pecado Capital” se tornou um dos grandes sucessos do artista, mesmo sem constar em nenhum dos álbuns de Paulinho.
A série de reportagens #JaneteClair, publicada no site da Rede Globo, conta a história e curiosidades da obra de uma das principais dramaturgas do país. Em homenagem aos 60 anos da teledramaturgia brasileira, a emissora exibe, de terça a sexta, o especial O Astro, baseado na obra de mesmo nome. A releitura da obra de Janete Clair é escrita por Alcides Nogueira e Geraldo Carneirom, tem direção de núcleo de Roberto Talma, direção geral de Mauro Mendonça Filho e direção de Fred Mayrink, Allan Fiterman e Noa Bressane.
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