Gloria Perez conhecia pouco de telenovela e Janete era uma sumidade no assunto. A estreante não imaginava o tamanho da responsabilidade que estava por vir: com a morte da autora, Gloria deveria assumir o posto na obra de uma das maiores dramaturgas do país. Pouco tempo de convivência foi suficiente para a novata aprender a lição:
- A novela tem essa coisa de satisfazer o seu sonho, até o sonho que a vida não te dá como, por exemplo, o grande amor, o amor impossível, o príncipe encantado e todas essas fantasias que estão embutidas na cabeça das pessoas. E a Janete transpunha isso para a tela de uma maneira tão verdadeira, tão sincera, que todo mundo comprava – afirmou ela para o jornalista Edney Silvestre no Globo Repórter de 2005.
A série #JaneteClair conta a história e curiosidades da obra de uma das principais dramaturgas do país. No mês de julho, a Rede Globo estreia uma nova versão para a trama de O Astro, desta vez em formato de série. No elenco da montagem, adaptada por Geraldo Carneiro e Alcides Nogueira, estão Regina Duarte, Daniel Filho, Rosamaria Murtinho, Carolina Ferraz, Alinne Moraes, entre outros. Francisco Cuoco, protagonista da primeira versão, participa da nova montagem, mas entrega para Rodrigo Lombardi o turbante do ilusionista Herculano Quintanilha.
Do rádio para a televisão: a radioatriz virou dramaturga
Sua chegada à Rede Globo foi repentina: a autora foi chamada às pressas para ajudar a salvar a novela Anastácia, a Mulher sem Destino. Estrelada por Leila Diniz, a trama sofria com a baixa audiência, alto custo de produção e elenco numeroso. Para solucionar o problema, Janete inventou um terremoto que devastou a ilha onde se passava a trama, eliminando mais de 100 integrantes. A partir daí surgia uma nova história e Janete Clair conseguiu fazer a trama engrenar. O trabalho garantiu a permanência da autora na emissora.
Em seguida, Janete Clair escreveu Sangue e Areia (1968), Passo dos Ventos (1968) e Rosa Rebelde (1969). O estilo naturalista e próximo da realidade brasileira, criado por ela, virou referência. Véu de Noiva, sua novela seguinte, tinha diálogos curtos e coloquiais, personagens e cenários contemporâneos, o que era uma grande inovação.- Eu acho que eu entendo um pouco da psicologia do povo, eu sei o que o povo gosta de ver, o que ele gostaria de sentir naquele momento. É uma comunicação de gente para gente, de emoção para emoção. Eu não estudei para isso, mas é uma intuição, um sexto sentido – afirmou Janete Clair em entrevista ao Jornal Hoje em 1982.
A história de amor que garantiu cem pontos de audiência
Em 1973, a autora escreveu O Semideus, para substituir uma trama que havia sido censurada poucos dias antes da gravação. A novela proibida era Fogo sobre Terra, que foi liberada e estreou no ano seguinte. Em 1975, estreou no horário das sete ao lado de Gilberto Braga com a novela Bravo!, mas foi chamada para escrever uma trama para substituir Roque Santeiro, vetada pela censura. Surge assim Pecado Capital, outro grande sucesso. Em 1976 lançou Duas Vidas e em 1977 escreveu O Astro, onde mobilizou o Brasil ao lançar a pergunta “Quem matou Salomão Hayalla?”. Ela também escreveu Pai Herói (1979), Coração Alado (1980), Sétimo Sentido (1982), além de Eu Prometo (1983), seu último trabalho.
Foram cerca de trinta anos inventando personagens, retratando a realidade brasileira e emocionando milhares de telespectadores. Para o autor Gilberto Braga, Janete Clair continua viva na memória do público e de quem continua a criar histórias na televisão do país.
- É impossível pensar em novela sem lembrar de Janete. Ela nasceu com uma total possibilidade de identificação com o povo brasileiro. Era capaz de, em uma mesma história, atingir todas as classes. Ela conhecia o povo e a arte do folhetim por intuição. Dificilmente alguém vai conseguir fazer isto da mesma maneira que ela sempre fez – afirmou o autor em uma entrevista de 1983.
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