
Ator e produtor do espetáculo, Bruce Gomlevsky, de 35 anos, conhece bem o que foi o rock brasileiro nos anos 80, quando surgiu e explodiu a banda Legião Urbana. Sua música predileta da banda é “Metal Contra as Nuvens”, do disco V, e não faz parte do repertório do espetáculo. Confessa que, na época, gostava de Legião Urbana, como qualquer jovem contestador. Mas a banda do coração era os Titãs. Foi ao ler uma biografia há seis anos que Gomlevsky redescobriu Renato Russo e se entregou de corpo e alma ao projeto do musical, que demandou dois anos de pura pesquisa. Nesta entrevista, ela fala sobre a comoção que Renato Russo provoca até hoje e o prazer de interpretar um personagem tão marcante.
São quatro anos interpretando Renato Russo. Como é conviver por tanto tempo com um personagem tão emblemático?
Vamos comemorar quatro anos em outubro, além de dois de pesquisa para montar a peça. É um privilégio fazer esse personagem, uma honra. Renato Russo é um dos ícones e talvez o maior porta-voz da minha geração. É um desafio muito grande também, pois existe uma expectativa enorme do público. Mas tudo tem dado certo desde a estreia. São mais de 40 cidades percorridas, mais de 200 mil espectadores e estamos chegando a marca de 350 apresentações. É um prazer fazer tanto tempo porque ainda hoje a resposta do público é muito calorosa. Fico impressionado ao ver como as pessoas continuam cantando todas as músicas. Tem uma nova geração de fãs dele e da Legião Urbana. Parece uma coisa que passa de pai pra filho, como os Beatles. Nunca tinha feito uma peça que emocionasse tanto as pessoas.
Você foi um daqueles fãs fervorosos do Legião Urbana?
Eu cresci ouvindo Renato e Legião assim como toda aquela leva de bandas que surgiram nos anos 80. Plebe Rude, Capital Inicial, Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho, entre outros. Gostava do Legião, mas não era aquele fã fundamentalista (risos). Naquela época, a minha banda do coração era o Titãs. O Legião vim redescobrir mais tarde.
Como surgiu a peça?
A peça foi uma ideia minha. Li a biografia escrita por Arthur Dapieve, “Trovador solitário”, há uns seis anos. Minha mulher, a atriz Julia Carrera – que produz o espetáculo comigo – foi quem me presenteou. Li o livro em uma hora e me veio a ideia do musical. Convidei a Daniela Pereira de Carvalho para escrever e Mauro Mendonça Filho para dirigir, mas foi um processo bastante colaborativo. Mergulhamos de cabeça na vida e obra do Renato Russo por dois anos para montar esta peça.
As peças vão melhorando com o tempo. Na sua opinião, o que se tornou mais “afinado” na montagem, da estreia até hoje.
O teatro tem um dado interessante que é da precisão, diferente do cinema e a televisão, por exemplo, que depois de registrado a cena, acabou. Ele te obriga a repetir. A estrutura do espetáculo é a mesma nestes quatro anos, mas ele me exige um aprofundamento. A afinação está aí O teatro possibilita que o ator melhore cada vez mais e se aprofunde. Senão cai no piloto automático e isso não me interessa. Estou cantando cada vez melhor, pois mantenho as aulas de canto, assim como mantenho uma disciplina para manter o corpo em dia, pois o espetáculo me exige muito fisicamente. O maior desafio é não deixar a encenação se tornar uma coisa mecanizada. É um espetáculo que se mantém vivo, sem dúvida. Não é à toa que continua tocando as pessoas.
Os fãs da banda vão ao teatro ver o espetáculo?
Eu acabo vivendo um décimo do que Renato vivia com os fãs. É uma delícia. As pessoas fazem fila depois do espetáculo para tirar fotos e receber autógrafo. Tem grupos de fãs que viaja de um estado para o outro só para rever a peça, participam de comunidades de internet e até me mandam presentes.
Por que Renato Russo continua tão vivo na memória do brasileiro?
O Renato continua sobrevivendo porque ele é um grande poeta, seus pensamentos tocaram uma geração e ainda causa comoção nas gerações de hoje. É difícil encontrar artistas no rock com a qualidade poética que ele tem, sem falar da ética e da postura em relação à sociedade. Ele falava de política e amor com a mesma desenvoltura, para jovens de todas as idades.
Novos projetos?
Estou produzindo “O Diário de Anne Frank”, em cartaz no Rio de Janeiro. Também tem o projeto da continuação da peça “Festa de Família”, intitulada “O Funeral”; a montagem “Volta ao Lar”, de Harold Pinter, com o meu grupo Teatro Esplendor; e uma versão de "Cyrano de Bergerac". Todos em processo de captação. O que sair primeiro a gente produz.
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