quinta-feira, 10 de junho de 2010

Globo Teatro: Rodrigo Lombardi e Fúlvio Stefanini encenam um tenso embate emocional em 'A Grande Volta'

Rodrigo Lombardi e Fúlvio Stefanini encenam um tenso embate emocional em “A Grande Volta”, peça do belga Serge Kribus dirigida por Marco Ricca, em cartaz em São Paulo. É o último texto traduzido pelo mestre Paulo Autran (1922-2007) e leva ao palco a complicada comunicação entre homens.

Mas podem esquecer o charmoso Raj, da novela Caminho das Índias e até mesmo o tímido e certinho Mauro, da atual Passione. Desta vez, Rodrigo Lombardi se despe de qualquer glamour para dar vida a Henrique, um publicitário à beira do precipício. Ele acaba de perder o emprego e sua mulher o abandonou levando o filho pequeno. Em meio ao momento caótico, retratado pelo apartamento desmontado para mudança, o jovem publicitário tem uma
grande surpresa. Seu pai, Bóris, um ator aposentado, chega à sua casa trazendo uma grande notícia: voltará à ribalta em grande estilo, interpretando Rei Lear.

Para Henrique, a situação quebra a ordem natural das coisas. Era ele que, naquele momento, deveria viver o auge profissional, não o pai, um homem já maduro. E é neste cenário delicado e conflituoso que os dois atores se jogam num embate de palavras criado por Kribus e finamente traduzido por Paulo Autran. “Quando Marco Ricca me deu a peça para ler, me chamou atenção a tradução do Paulo”, comenta Fúlvio Stefanini. “Era uma peça adaptada por alguém que fazia e conhecia muito bem o teatro, com diálogos muito espontâneos e dinâmicos”.

O texto chegou às mãos de Ricca pelo produtor Germano Soares, amigo e assistente de Paulo Autran. Para Rodrigo Lombardi, o projeto, apresentado a ele no ano passado, era a oportunidade perfeita para “voltar para casa” – o teatro – após uma maratona de novelas. “Queria saber quem faria o papel de Bóris assim que li”, conta ele. “E Ricca me disse que em todo mundo deveriam ter apenas cinco atores capazes de fazer o personagem, e no Brasil apenas o Fúlvio”. Devido a gravações das novelas Caminho das Índias e Caras & Bocas, o primeiro encontro só aconteceu quatro meses depois, no fim de 2009. “Quando acabamos a primeira leitura, estávamos arrepiados”, conta Lombardi.

E aí se iniciou um processo de carpintaria cênica. De um lado um ator veterano com mais de 50 peças encenadas e 42 novelas. Do outro, um ator que vem construindo uma sólida carreira (são 14 peças e agora oito novelas, contando com a atual), mas maduro o bastante para não se deixar levar pelo sucesso meteórico do personagem Raj. Lombardi tem pés no chão e olhos atentos ao que pode aprender com a experiência de Fúlvio e Fernanda Montenegro, por exemplo, com quem contracena em Passione. “No começo bambeava as pernas quando Fúlvio falava comigo”, diverte-se Lombardi. “Mas com o tempo fomos virando Bóris e Henrique.”

Os ensaios foram intensos, pois trata de relações num universo dominado por testosterona. “É uma peça masculina, mas não fala apenas da relação de pai e filho. Levantamos questões sobre casamento, relação homem e mulher, realização profissional, de amizade”, analisa Lombardi. “A testosterona está no tônus dos dois personagens, um chega numa ascendência e o outro está numa descendência sem fim, pelo menos para ele naquele momento. Somos dois jagunços falando de temas delicados numa história delicada”.

“O texto não é machista em nenhum momento”, defende Stefanini. “O humor é espontâneo, orgânico. As cenas não são trabalhadas para ter momentos de humor. Não tem estrutura de comédia, apesar de ter momentos engraçados”. Para o ator, a peça tem duas características fundamentais: a primeira é ser atemporal, sem nenhuma localização específica, o que com certeza colaborou para seu sucesso de público e de crítica na França, Bélgica, Suíça, Argentina, entre outros países, onde foi montada desde 2000.

Mas o principal atrativo não depende de um bom texto apenas: está na sintonia entre os atores. “É fundamental se dar bem em cena, na troca, no olhar, um levantando a bola para o outro”, acredita Stefanini. “Aprendi isso com diversos colegas. A generosidade no palco é fundamental e isso Rodrigo tem de sobra. A gente tem afinidade e essa é uma marca da peça. Sem esta química, não funciona.”

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