Encontrar com Jonatas Faro no refeitório do Projac, da Rede Globo, explica muito o magnetismo do garoto que se tornou um dos campeões de cartas da emissora por conta do Peralta de Malhação – personagem que o ator se despediu no final de 2009. Das atendentes dos restaurantes aos motoristas dos carrinhos que levam artistas de um lado para o outro, ele falou com meio mundo. E ouvia elogios à performance dele na versão brasileira do musical “Hairspray”, em cartaz no Rio de Janeiro desde julho do ano passado - e que aporta em São Paulo no mês de fevereiro. Logo no começo do papo, ele ajuda a equilibrar o iPhone que gravou a conversa em uma cadeira: diz que aprendeu o macete pois costuma registrar as aulas de canto que faz por conta do musical. Na conversa a seguir Jonatas conta que procurou o primeiro trabalho como ator, escondido dos pais, aos dez anos de idade. Que já foi até lavador de carros nos Estados Unidos, antes de ser descoberto como modelo. E que, veja só!, antes de arrebentar como o Peralta ele havia feito três testes para Malhação que não deram certo.
Já que você começou dando uma dica que aprendeu em sua aula de canto, podemos começar o papo por aí. Quando foi que você começou a ter aulas técnicas?
Jonatas Faro – Eu comecei faz dois meses. Quando saí de Malhação fiquei com uma carga horária mais flexível. Nunca tinha feito aula de canto antes e comecei por causa do musical (Jonatas é uma das estrelas da montagem brasileira de Hairspray), mas eu sempre cantei desde pequeno. Minha mãe era professora de violão e tudo mais, só que você não pode contar apenas com uma coisa natural, você tem que ter uma técnica, tem que saber usar o que você tem. E estou me amarrando, é muito bom!
Alguma referência o estimulou a seguir por esse caminho?
Jonatas – Eu comecei as aulas depois de fazer o Hairspray, que está em cartaz faz cinco meses (a conversa foi gravada no mês de dezembro). Como disse, sempre cantei, mas quis as aulas para ter uma técnica. A gente faz cinco musicais por semana, se você não souber colocar a sua voz no lugar certo, você começa a se machucar, né? Eu já perdi a voz há um tempo atrás justamente por não saber usá-la, foi aí que percebi a necessidade de um treinamento.
Mudando o rumo do papo, lembrei que sua passagem por Malhação o colocou como um dos campeões de cartas da emissora. O que você já recebeu do pessoal?
Jonatas – Nossa, já recebi muita coisa, inclusive surpresas engraçadas. As cartas gigantes e quilométricas são mais raras, mas tem gente que manda carta com presente, com foto, pedido de namoro...
Lembre aí de um presente que você já ganhou, Jonatas!
Jonatas – Uma vez ganhei um quadro de um fã que mora na Austrália. Ele pintou uma tela grande e me enviou a foto do quadro. Seu eu gostasse e aprovasse, ele mandava para mim. E o quadro é irado, ele pintou meu rosto de lado, ficou bem legal.
E os presentes divertidos?
Jonatas - Já recebi calcinha...
Um momento Wando?
Jonatas – (Risos) Também já recebi cartas de senhoras mais velhas, que assitem à novela e acompanham meu trabalho. Inclusive algumas cartas de mães querendo me apresentar à filha delas.
O elenco curte receber as cartas, né?
Jonatas – As pessoas acham que a gente não lê. Mas, pelo menos no elenco de Malhação, quando a gente estava gravando, era a maior expectativa quando chegavam as cartas. Vem de mês em mês, de semana em semana, aí todo mundo se sentava e ficava comentando o que recebeu.
E você lembra de algum colega de cena que recebeu algum presente desses lendários, que chamaram atenção de todo mundo?
Jonatas – A Sophia (Abrahão) uma vez recebeu um ônibus. Um ônibus em miniatura com várias fotos dela na janela, uma doideira. Bonito, uma coisa muito artesanal. Foi engraçado na hora de abrir porque ela achou que fosse uma carta quilométrica.
Falando agora da sua carreira. Você começou bem cedo, né?
Jonatas – Foi aos 10, na Chiquititas, do SBT, mas minha primeira novela aqui na Globo foi Um Anjo Caiu do Céu, em 2001, quando eu tinha 13 anos. Na trama eu era filho da Patrícia (Pillar), meu personagem foi sequestrado, foi um drama.
É verdade que você tomou a iniciativa de procurar trabalho na televisão?
Jonatas – Eu nunca tinha ido a uma agência, nunca tinha pensado nesse meio. E eu nem acompanhava Chiquititas, até que vi e decidi que queria fazer. Eu não sabia nem o que era fazer, para mim era só brincar ali e se divertir. Peguei uma lista e comecei a procurar o telefone da emissora. Comecei a ligar para eles, tentar agitar alguma coisa. Mas eu tinha dez anos, né?
E os seus pais?
Jonatas – Minha mãe não sabia. Enquanto ela trabalhava eu ficava na lista telefônica. Cheguei até a descobrir o telefone da Argentina, que era onde gravavam.
Aos dez anos e sem Google?
Jonatas – Sem internet! Quando você quer, com uma lista telefônica, você consegue (risos). De tanto ligar, a mulher que já estava acostumada a falar comigo me contou de um teste que ela achava (Jonatas frisa o achava com tom de desdém) que poderia acontecer. Eu fui e era o último dia dos testes.
Como surgiu um espaço aqui na Globo?
Jonatas – Me convidaram para fazer um teste em um Anjo Caiu do Céu e passei. Quando saí da novela, fiz meu primeiro teste para Malhação, com 14 anos, mas eu estava muito novo ainda. No meu segundo teste, novamente me acharam novo. No terceiro teste eu cheguei a passar, mas tinha uma viagem marcada para fora do país e, quando recebi a resposta, já estava lá. Aí no último que eu fiz eu passei.
Então você entrou em Malhação no seu quarto teste.
Jonatas – Foi o Peralta, em 2008, que vingou. Na nossa profissão você tem que ter perseverança. Não adianta ficar parado esperando nem desistir ao escutar o primeiro não.
Dá para dizer que Hairspray é seu maior projeto paralelo à televisão?
Jonatas – Eu fiz algumas peças antes de Malhação, mas eu sempre quis fazer um musical de grande porte. Eu lembro que em 2008 eu estava próximo do Daniel Boaventura (à época em Malhação, hoje em Cama de Gato). Ele é um grande ator de musicais aqui no Brasil, e a gente trovaca umas ideias: ‘Pô Daniel, não vejo a hora de fazer um musical, em um papel legal’. E ele sempre falava para esperar que ia rolar. Até que surgiu o convite para o Hairspray. Confesso que não conhecia o musical, só tinha visto o filme, até que eu pirei. Comecei a pesquisar, a me especializar... ...foi um divisor de águas tanto no campo pessoal como profissional.
Como o Jonatas Faro está se vendo no futuro? O que você tem vontade de ainda fazer?
Jonatas – Tenho vontade de fazer cinema. Do mesmo jeito que não via a hora de fazer um musical, não vejo o momento de fazer um filme aqui no Brasil.
E essa história de quando você foi morar nos EUA por volta dos 18 anos? Você já era ator; começou uma carreira de modelo por acaso?
Jonatas – Fui com 17 anos morar fora porque quis. Queria estudar, sair um pouco daqui para abrir a cabeça. É bom você dar uma mudada assim, principalmente quando é novo. Eu trabalhei fazendo de tudo lá porque não queria pedir dinheiro para os meus pais. Por acaso estava no aeroporto e me chamaram, me descobriram para ser modelo. Eu queria conhecer Nova York, estava precisando de grana, fui amaradão. Fiquei alguns meses trabalhando como modelo e foi quando consegui estudar, conhecer realmente a cidade...
O que você fez lá antes de começar como modelo?
Jonatas – Trabalhei de garçom, lavava carro, fiz de tudo um pouco. E conheci pessoas incríveis. Brasileiros que vão lá tentar a vida. Fiz amigos para a vida inteira.
Você ficou em uma comunidade brasileira.
Jonatas - Na Flórida tem uma comunidade grande de brasileiros. Uma galera que rala de verdade para ajudar a família no Brasil.
Se você fizer um papel de imigrante, já tem um laboratório pronto...
Jonatas – (Sorri) Já tenho um laboratório de vida. É uma coisa séria. Conheci pessoas com histórias lindas de vida. Foi um ano muito bom na minha vida. Fui com a passagem comprada de ida e de volta para ficar por lá somente um ano. E não se tornar uma coisa solta. Dentro desse ano eu tinha que fazer o que pudesse.
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