terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Entretenimento é tema de debate promovido pelo Globo Universidade

Entender a função e os desdobramentos do entretenimento na contemporaneidade foi a proposta da oitava e última edição do ciclo de debates do Consórcio de Entretenimento e Cultura Contemporânea (CECC), que aconteceu na segunda-feira, dia 30 de novembro.

O evento é uma realização do Globo Universidade, com o apoio cultural dos programas de pós-graduação em comunicação da UERJ, da UFF, da UFRJ e da PUC-RJ, e a ESPM-RJ, através do Pan Media Lab - Laboratório de Pesquisas e Análises em Mídias, Entretenimento, Design e Intervenções Artísticas.

Para discorrer sobre o tema "Entretenimento e Contemporaneidade", Vinícius Andrade Pereira, idealizador do projeto, reuniu três expoentes da cultura atual: o psicanalista MD Magno, o professor, músico e poeta José Miguel Wisnik e o cantor e escritor Fausto Fawcett. Representantes de diversas e emblemáticas vertentes de pensamento – Magno é pós-doutor em Comunicação, discípulo e ex-analisando de Jacques Lacan e criador da Nova Psicanálise; Wiznik é pós-doutor em Letras, poeta e músico; e Fawcett é cantor, dramaturgo e escritor.

- Este encontro é uma espécie de balanço. Como é o derradeiro, eu trouxe convidados de gala. Além de dois grandes acadêmicos, temos também um homem que está no showbusiness e pensa essa esfera a partir de sua própria vivência – disse Pereira, referindo-se, por último, a Fausto Fawcett.

A mesa de debates, mediada por Pereira, foi precedida de um vídeo. Na tela, a voz em off introduzia o público àquilo que seria pauta em seguida, enquanto imagens de propagandas, filmes e seriados norte-americanos mesclavam-se:

- A falência do eterno dá lugar à frivolidade do transitório nos dias atuais. As pessoas consomem o entretenimento como fazem com marcas e produtos, e assim necessitam, a todo o tempo, redesenhar a imagem pública que fazem de si. Entender o entretenimento é o desafio de uma sociedade para compreender seu próprio tempo – sentenciou na projeção.

MD Magno abriu o encontro. Ele afirmou que a sociedade experimenta um momento muito particular: há falta de crença em idéias antigas, mas, concomitantemente, existe a resistência em aceitar as novidades. Este interregno seria a causa de toda a crise humana atual e desvelaria em todas as manifestações sociais e psíquicas, inclusive na relação da contemporaneidade com o entretenimento.

- O século XX já morreu, mas o velório ainda dura. Está difícil de enterrar. Desta forma, a sensação geral é de que o piloto sumiu e não se sabe para onde vai a aeronave.

Ele ressaltou a mudança de paradigmas: - Tudo o que permeava a sociedade agora é caduco. A noção de pai, forte na antiga psicanálise, já não se justifica. A reprodução já não é o carro-chefe da reprodução, a ideia de ‘dever’ já não convence ninguém. Cada vez mais gosto não se discute – família, sexo, tudo depende.

Segundo Magno, o regime do século XX era o da falta. Agora é o do excesso.

- Somos tão excessivos que inventamos as faltas sem parar! Há uma queda no refinamento: todo mundo faz tudo, pode ser tudo. E tendemos a transformar a vida em ficção. Enfim, não há fronteira entre contemporaneidade e entretenimento; a contemporaneidade é o entretenimento.

Wisnik: Lazer não é mais tempo livre

Wisnik, segundo a ter a palavra, baseou seus argumentos nas oposições entre trabalho e labor/cultura e entrenimento:

- Trabalho é algo que dura, que você faz para a eternidade, como também é a cultura - e requer descanso. Labor seria algo que se consome em si; você consome e transforma em dejeto quase instantaneamente, que seria o entretenimento - e pede lazer. A cultura é a produção de objetos simbólicos que atravessam o tempo e que suscitam leitura e releitura, já o entretenimento, não.

Partindo desses conceitos, Wisnik salientou que as pessoas hoje quase não mais trabalham, apenas laboram. E estão, portanto, sempre ocupadas, já que lazer não é descanso.

Lazer não é mais tempo livre. A agenda do lazer é tão cheia quanto a do labor. – analisou.

Fawcett: O entretenimento habita um Fla x Flu ideológico

Logo ao apresentar Fausto Fawcett, Pereira o classificou como um ‘William Gibson brasileiro’ (em alusão ao escritor norte-americano autor de "Neuromancer", o primeiro romance do gênero cyberpunk), por seu livro “Santa Clara Poltergeist”.

- Fawcett foi o primeiro a misturar negros, ciborgues e Copacabana. Foi um pioneiro e tem um pensamento raro.

"O entretenimento habita um Fla x Flu ideológico: diversão x profundidade; seriedade x leveza. Mas não pode ser assim, está ‘Tudo junto e misturado’, como diz o nome do CD do Latino! É ‘Tudo ao mesmo tempo agora’, como o título do álbum dos Titãs"

O conhecimento empírico de Fawcett acerca do showbusiness rendeu a ele não só elogios, mas boas piadas e aplausos da plateia.

Fawcett defendeu que a crise contemporânea é inerente ao homem e que não há vítimas.

- Temos prazer e somos bacanas e terminamos sendo avacalhados por uma conspiração que muda nossa natureza? É claro que não! Não somos bonzinhos e corrompidos; somos críticos e cúmplices! O verdadeiro PAC não é aquele da economia, somos nós: puro Paradoxo, Ambigüidade e Contradição.

Sobre o maniqueísmo que ronda o assunto do debate, ele atestou: - O entretenimento habita um Fla x Flu ideológico: diversão x profundidade; seriedade x leveza. Mas não pode ser assim, está ‘Tudo junto e misturado’, como diz o nome do CD do Latino! É ‘Tudo ao mesmo tempo agora’, como o título do álbum dos Titãs.

MD Magno: - Há uma queda no refinamento: todo mundo faz tudo, pode ser tudo.

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